No mês do Novembro Azul, um lembrete que homens também sentem dor

Saúde

Todos sentem dor de forma única e particular.(1) Em pessoas do sexo masculino, fatores biológicos e socioculturais também influenciam na forma de sentir e lidar com ela

Uma das principais causas que levam uma pessoa a procurar atendimento médico, no geral, é a dor.(2) Mas, apesar de poder acometer qualquer um, cada indivíduo sente dor de maneira única e particular, segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, na sigla em inglês).(1) Existem particularidades inclusive de acordo com os sexos e gêneros, ou seja, mulheres e homens têm idiossincrasias biológicas e podem reagir de formas distintas às mesmas condições dolorosas.

As diferenças em como homens e mulheres reagem à dor são encontradas em várias condições, incluindo a prevalência de dor lombar, osteoartrite, fibromialgia, disfunção temporomandibular, dor de cabeça e dor abdominal nesses grupos(3), e é necessária uma abordagem personalizada e multidisciplinar para cada caso,(1) que leve essas peculiaridades em consideração, visando garantir a melhora da qualidade de vida do paciente, seja ele do sexo masculino ou feminino.

Além dessas particularidades entre sexos e gêneros que existem para tipos de dor semelhantes, também existem doenças específicas do homem. É o caso da Síndrome da Dor Pélvica Masculina, definida pela Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) como dor, pressão ou desconforto crônico localizado na pelve, períneo ou genitália de homens, tendo como sintomas mais comuns dores ou desconfortos no períneo, área suprapúbica, pênis e testículos, além de incômodos ao urinar e ejacular, e também a disfunção sexual.(4)

Neste mês, a preocupação com a saúde masculina fica mais em evidência por conta da campanha do Novembro Azul, dedicada à conscientização ao diagnóstico do câncer de próstata. O próprio paciente com câncer também pode sofrer da chamada dor oncológica, que pode ser causada pelo próprio tumor, pelos tratamentos de quimioterapia e radioterapia, por exemplo, pelos exames realizados para o diagnóstico da doença, ou até mesmo dores pós-operatórias, depois da retirada do tumor.(5)

No entanto, o neurologista especialista em dor Dr. Rogério Adas, Diretor Científico do Comitê de Dor da Associação Paulista de Medicina (APM), aponta que, apesar dos esforços de conscientização sobre a saúde masculina ocorrerem em novembro, “a saúde dos homens deveria ser sempre um assunto lembrado em todo ano, e não só para os problemas relacionados ao aparelho urogenital. Buscar tratamento para a dor, seja ela uma lombalgia, uma cefaleia, um câncer de próstata, ou outro problema específico, é necessário para evitar sua cronificação e, claro, melhorar a qualidade de vida do paciente”. 

Segundo Adas, “compreender por que as pessoas de diferentes sexos e gêneros apresentam variações e particularidades em sua experiência dolorosa e em sua resposta à dor é algo fundamental para o desenvolvimento de tratamentos melhores, mais direcionados e personalizados para o paciente que sofre com dores crônicas, por exemplo”. O doutor ainda ressalta a importância de se buscar tratamento adequado e oportuno e valorizar a saúde e bem-estar: “Ninguém merece ou é obrigado a viver com dor. Se é possível buscar tratamento para ao menos tentar aliviar esse desconforto, é preferível que o paciente, inclusive o homem, busque ajuda ao invés de continuar em sofrimento para tentar cumprir com supostas pressões sociais”. 

Avaliação da dor no homem e procura por tratamento

Múltiplos fatores podem influenciar na busca de tratamento pelo homem que sofre com dor. De acordo com um artigo de revisão de estudos epidemiológicos publicado por pesquisadores da Noruega e do Reino Unido, até mesmo o método de coleta de dados dos pacientes para avaliação da dor influencia na forma de buscar e receber tratamento para dor. Ao serem entrevistados, os homens tendiam a reportar menos a sua dor do que quando se manifestavam por conta própria, sugerindo que existem diferenças entre a dor de homens e mulheres desde o momento de descrever a dor sentida ao médico.(6)

A avaliação da dor no homem também é influenciada por fatores sociológicos, já que eles são ensinados desde cedo a serem firmes, tolerarem a dor e suportarem experiências dolorosas.(7) Essas expectativas sociais não influenciam somente no comportamento do paciente, mas também no tratamento oferecido por médicos e pesquisadores, que podem ter influência de vieses não motivados por questões médicas, mas sim por condições socioculturais impostas pela sociedade.(8)

Referências

(1) Raja, S. N., Carr, D. B., Cohen, M., Finnerup, N. B., Flor, H., Gibson, S., … Vader, K. (2020). The revised International Association for the Study of Pain definition of pain:  concepts, challenges, and compromises. Pain, 161(9), 1976–1982. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7680716/

(2) Barreto, Renato de Freitas et al. Avaliação de dor e do perfil epidemiológico, de pacientes atendidos no pronto-socorro de um hospital universitário. Revista Dor [online]. 2012, v. 13, n. 3, pp. 213-219. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1806-00132012000300004>. Epub 08 Out 2012. ISSN 2317-6393. https://doi.org/10.1590/S1806-00132012000300004.

(3) Keogh E. Sex and gender differences in pain: past, present, and future. Pain. 2022 Nov 1;163(Suppl 1):S108-S116. doi: 10.1097/j.pain.0000000000002738. PMID: 36099334.

(4) Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED). Síndrome da Dor Pélvica Crônica Masculina. 2012. Disponível em: https://sbed.org.br/wp-content/uploads/2019/02/16.pdf

(5) INSTITUTO ONCOGUIA. Causas da dor em pacientes com câncer – Instituto Oncoguia. 2015. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/causas-da-dor/7664/902/.

(6) Steingrimsdottir OA, Landmark T, Macfarlane GJ, Nielsen CS. Defining chronic pain in epidemiological studies: a systematic review and meta-analysis. PAIN 2017;158:2092–107.

(7) C. D. Myers, J. L. Riley III, and M. E. Robinson, “Psychosocial contributions to sex-correlated differences in pain,” Clinical Journal of Pain, vol. 19, no. 4, pp. 225–232, 2003.

(8) Anke Samulowitz, Ida Gremyr, Erik Eriksson, Gunnel Hensing, ““Brave Men” and “Emotional Women”: A Theory-Guided Literature Review on Gender Bias in Health Care and Gendered Norms towards Patients with Chronic Pain”, Pain Research and Management, vol. 2018, Article ID 6358624, 14 pages, 2018. https://doi.org/10.1155/2018/6358624

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