Por Dr. Carlos Barsotti
Trabalhar no conforto de nossas casas é o sonho de muitas pessoas. Não há dúvidas dos benefícios que o home office traz para diversas profissões – mas, também são inegáveis alguns malefícios que esse modelo desencadeou para muitas. Dentre tantos problemas físicos potencializados desde o início da pandemia, casos crescentes de lombalgia foram impulsionados, inevitavelmente, pelo maior tempo sentados sem praticarem exercícios. Para aqueles que ainda trabalham neste modelo, é fundamental tomar certos cuidados diários, para que esta dor não se eleve e gere problemas ainda maiores para a saúde.
Em um comparativo feito pelo IBGE, enquanto em 2013, apenas 18,1% dos brasileiros relatavam terem dores na coluna, uma nova pesquisa feita em 2020 registrou um total de 41% de queixas nesta dor pela população. O simples fato de passarem muitas horas do dia sentados faz com que a pressão na coluna seja muito maior do que quando estão em pé, corroborados por inúmeros estudos que mostram a sobrecarga maior no disco intervertebral ao estarmos nas cadeiras.
Com o isolamento social, além do tempo nesta posição ter aumentado significativamente, a quantidade de exercícios praticados foi potencialmente reduzida, o que impede que o devido fortalecimento da coluna e, assim, eleva os riscos de deixá-la instável e seu desgaste mais veloz. O cenário se mostrou tão preocupante que, em dados publicados no The Lancet Rheumatology, espera-se que, até 2050, o número de pessoas diagnosticadas com lombalgia deva chegar à marca dos 843 milhões – um aumento de 36% em relação às 619 milhões que sofreram com este problema em 2020.
É fato que estas dores são mais comuns na faixa etária dos 18 aos 50 anos, não costumando ser tão frequente em crianças ou idosos. Normalmente, os primeiros sintomas naqueles que enfrentarão esses problemas costumam ser a sensação de desconforto na musculatura e, dependendo do caso, espasmos musculares, até migrar para o diagnóstico concreto da lombalgia. Quando não tratada devidamente, ela tenderá a piorar com o tempo, correndo sérios riscos de travar a coluna do paciente e, ainda, desencadear outros problemas sérios para sua saúde.
Por mais que existam diversas opções de tratamento para lombalgia, que vão desde infiltrações, bloqueios e rádio frequência à laser em casos mais simples, a cirurgias em diagnósticos mais graves, a grande maioria dos casos destas dores não precisará de uma cirurgia para seu tratamento – podendo ser tratada a partir de procedimentos minimamente invasivos que irão reduzir a dor do paciente e evitar que ela se torne um impeditivo para suas atividades diárias.
Mas, o que realmente fará a diferença para prevenir estas dores e assegurar a qualidade de vida, principalmente, para quem trabalha no modelo de home office, serão os hábitos rotineiros adotados em prol do fortalecimento da coluna. O pilates costuma ser muito prescrito para fortalecer o core, com alta capacidade de contribuir para que a lombalgia tenda a diminuir gradativamente, mas existem diversos outros exercícios que, caso praticados frequentemente, também se mostram como algumas das melhores maneiras de atingir esse fortalecimento e evitar a necessidade de procedimentos para tratar esta dor.
Certas linhas de pesquisa com células tronco e plasma PRP estão ganhando força no Brasil, apresentando forte perspectiva de também contribuir para a piora da lombalgia. Contudo, esse ainda é um processo que deverá ser estudado mais a fundo, até que esteja acessível à população com efeitos positivos para as dores na coluna.
Inevitavelmente, grande parte das pessoas terá algum caso de lombalgia ao longo de suas vidas, principalmente, diante da popularidade do home office ao redor do mundo. Entretanto, trabalhar de casa não precisa ser sinônimo do agravamento desta condição, uma vez que existem diversos hábitos diários que podem contribuir para evitá-la. Muitos vícios em postura e tempos longos sentados podem ser bem administrados, desde que estes cuidados sejam tomados corretamente para uma rotina de trabalho em casa saudável par todos.
Sobre o Dr. Carlos Eduardo Barsotti:
Dr. Carlos Eduardo Barsotti é cirurgião ortopedista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Mestre em Ciências da Saúde e Pós-graduado pela Harvard Medical School. Com mais de 19 anos de experiência na área, é um dos poucos profissionais do país a realizar intervenções de alta complexidade, principalmente na correção de escoliose.