Um estudo publicado na revista científica JAMA Network, levantou o questionamento sobre o dispositivo intrauterino (DIU) ter relação com o aumento das chances das mulheres desenvolverem o câncer de mama.
Na pesquisa dinamarquesa, com participação de 157 mil mulheres, o resultado foi um risco de 1,4 vezes maior de desenvolver câncer de mama entre as participantes que usam o DIU hormonal com levonorgestrel, que no Brasil é conhecido como Mirena.
Suzana Lessa (@drasuzanalessa), ginecologista afiliada do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais)/Niterói, atuante em endocrinologia e nutrologia, especialista em reposição hormonal, explica que esse ainda é um tema discutido em que novos estudos precisam ser realizados para maior esclarecimento sobre a correlação direta do aumento do risco de câncer de mama, ou seja, sem outros fatores que poderiam estar associados e serem agravantes, como idade, uso prévio de anticoncepcional oral/injetável, sobrepeso, história familiar, consumo excessivo de bebida alcoólica, entre outros, além do uso do dispositivo intrauterino hormonal contendo levonorgestrel.
Alguns estudos indicam um aumento do risco de câncer de mama com o uso de contraceptivos hormonais orais e injetáveis contendo progestinas, um tipo de hormônio sintético da mesma classe do hormônio contida no DIU. “No entanto, a progestina levonorgestrel no dispositivo intra-uterino atua diretamente no útero e sua absorção sistêmica é significativamente menor do que quando comparado com pílulas anticoncepcionais orais e injetáveis, o que poderia sugerir que o impacto sistêmico, ou seja, no corpo como um todo, seja mais limitado, reduzindo o risco quando comparado com outras formas hormonais de anticoncepção”, comenta Suzana.
Como o DIU atua nos níveis hormonais?
O DIU hormonal age liberando pequenas quantidades da progestina levonorgestrel diretamente no útero, alterando o muco cervical e deixando a camada interna do útero mais fina, o que dificulta a progressão de espermatozoide, evitando a fecundação e a implantação de um óvulo se for fecundado. Embora sua principal ação seja local, o útero é um órgão extremamente vascularizado e pequenas doses do hormônio podem ser absorvidas pela corrente sanguínea causando alterações sistêmicas dos níveis hormonais. Uma vez circulando pelo corpo, o levonorgestrel pode se ligar a receptores de progesterona em outros órgãos, incluindo a mama, podendo aumentar o risco para o desenvolvimento de tumores, principalmente em mulheres que possuem maior fator de risco. O risco de câncer de mama é influenciado por fatores como idade, obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo alcoólico, histórico familiar e predisposição genética.
Recomendações médicas
De acordo com a ginecologista, embora raro, o risco aumentado associado ao uso de contraceptivos hormonais é um fato. O risco com o DIU com levonorgestrel provavelmente é mais baixo quando comparado com outros métodos hormonais, mas o acompanhamento com médico é sempre indicado. É fundamental manter consultas ginecológicas de rotina, pelo menos 1 vez ao ano.
Para mulheres que estão preocupadas com o risco de câncer, seja de mama ou qualquer outro tipo, cuidar do estilo de vida é a principal e mais efetiva forma de prevenção. Ter uma alimentação balanceada, realizar atividade física regularmente, ter bons hábitos de sono, evitar consumo excessivo de bebidas alcoólicas e não fumar proporcionam mais saúde reduzindo o risco para todas doenças.
É importante manter um acompanhamento regular com um médico ginecologista, realizar exames de rastreamento adequados como ultrassonografia e mamografia para as mulheres acima de 40 anos.
REFERÊNCIAS:
FEBRASGO – Contracepção reversível de longa duração
JAMA. October 16, 2024. doi:10.1001/jama.2024.18575 – Breast Cancer in Users of Levonorgestrel-Releasing Intrauterine Systems
Lina Steinrud Mørch, MSc, PhD1; Amani Meaidi, MD, PhD1; Giulia Corn, MSc, PhD2; et al
FONTE:
Suzana Lessa (@drasuzanalessa), afiliada do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais)/Niterói, ginecologista atuante em endocrinologia e nutrologia, especialista em reposição hormonal. CRM:916315. RQE N°: 40719.