Pesquisa do CEUB aponta potencial sustentável do consumo desse tipo de planta, incentivando a priorização dos alimentos in natura e a biodiversidade regional
O aproveitamento dos alimentos pode sanar a demanda de insegurança alimentar de grande parte da população mundial. Além dos vegetais comercializados em hortas, feiras e mercados, as Plantas Alimentícias não Convencionais (PANC) podem ganhar protagonismo na mesa da população brasileira. Grande parte desses alimentos apresenta valor nutricional igual ou superior às hortaliças, raízes, tubérculos e frutas. Visando difundir o potencial das PANC na alimentação, a estudante de Nutrição do Centro Universitário de Brasília (CEUB) Isabella Borges realizou uma pesquisa sobre os hábitos de consumo relacionados aos alimentos não convencionais – que são geralmente desconhecidos, com exceção de alguns hábitos regionais.
Com a alimentação cada vez mais baseada em produtos industrializados, as diversas espécies nativas de plantas com um alto potencial econômico e nutricional tendem a continuar no desconhecimento. Ao todo, 5 mil espécies de plantas e vegetais podem ser utilizados para a alimentação, mas destas, apenas 130 são de fato cultivadas e consumidas e apenas 30 suprem as necessidades básicas da alimentação da população.
“Isso demonstra a reduzida variedade na alimentação e a necessidade de conscientização a respeito das Plantas Alimentícias Não Convencionais, para a melhora da qualidade de acesso e aumento do consumo de alimentos de origem vegetal”
– Destaca a pesquisadora.
Para avaliar o conhecimento da população sobre o consumo das PANC, a estudante entrevistou 303 pessoas, entre 18 e 75 anos sobre o aproveitamento de partes comestíveis de alimentos, espécies mais consumidas e formas de preparo. Quando questionados sobre o conhecimento do que são Plantas Alimentícias Não Convencionais, 53,5% dos entrevistados responderam não conhecer sobre, enquanto 46,2% possuíam algum tipo de conhecimento do termo. Ao apresentar uma lista de PANC, foram reconhecidas as seguintes espécies: Aipo (58,6%), como o mais consumido, seguido da Taioba (46%) e a Ora-pro-nóbis (45,4%).
Isabella Borges afirma que explorando a biodiversidade brasileira e usufruindo do seu elevado potencial nutritivo pode-se mudar o cenário de insegurança alimentar.
Ela destaca que as PANC têm baixo custo, visto que não necessitam de condições especiais para se reproduzirem, tem fácil reprodutividade, ajudam a variar sabores e coloração dos pratos:
“garantindo um melhor aporte de vitaminas e minerais e fortalecendo a soberania alimentar de muitas famílias, além de serem uma ótima fonte de renda”
– Frisa.
Para a orientadora do projeto, Alessandra Santos, professora do curso de Nutrição do CEUB, do ponto de vista nutricional, as PANC se enquadram no contexto de dietas saudáveis e sustentáveis, pois, além de nutritivas e saborosas, são importantes para a preservação da biodiversidade de fauna e flora brasileira.
“Esse cultivo caminha contra o atual sistema de produção do Brasil, tido como líder do agronegócio, que propaga o cultivo de monoculturas, responsáveis pela redução dessa biodiversidade”
– Considera.
Plantas Alimentícias não-convencionais no Brasil
O Brasil está entre um dos países com a maior biodiversidade de fauna e flora no mundo. Entretanto, o seu sistema agroalimentar ainda é nutrido por uma raiz agrícola convencional e por um padrão alimentar habitual industrializado e limitado. De acordo com a pesquisa do CEUB, a questão da insegurança alimentar pode ser solucionada através de recursos que possibilitem o acesso ao alimento saudável e ao conhecimento destes, respeitando sempre a variedade alimentar, cultural, ambiental, econômica e sustentável.
Podendo ser espontâneas, cultivadas, nativas ou exóticas, as PANC podem ser encontradas em quintais ou até mesmo em áreas comuns de cultivo agrícola, mas acabam sendo consideradas plantas invasoras ou daninhas, e desperdiçadas sem o conhecimento que servem como fonte alimentar. Alimentos como folhas de batata doce, umbigo de bananeira, maxixe, Ora-pro-nobis e Jambu são conservadas e utilizadas em alguns estados brasileiros, porém a maioria dos hábitos alimentares regionais não chega ao conhecimento da população nas grandes cidades.
A partir do resultado, Isabella Borges defende a divulgação do potencial econômico e nutricional das PANC, contribuindo para uma maior diversidade alimentar e preservando a biodiversidade regional.
“Não existem feiras e locais onde essas plantas podem ser encontradas, embora estejam presentes em diversas regiões. É necessário, também, investir em acesso ao conhecimento científico, até aos produtores, além de suas formas de preparo e consumo”
– Conclui.