Personagem da novela das 9 sofre da síndrome de esgotamento profissional, que afeta milhões de profissionais pelo mundo
Nos últimos capítulos de Vale Tudo, Renato Filipelli (interpretado por João Vicente) desmaiou no escritório após trabalhar de forma excessiva e usar estimulantes de forma contínua. O CEO da Tomorrow, agência fictícia na novela, é diagnosticado com burnout, um estado de completa exaustão física, emocional e mental causado por situações desgastantes de trabalho durante um longo período de tempo. No entanto, isso não é só ficção. De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho, aproximadamente 30% dos brasileiros sofrem da síndrome do esgotamento profissional. Porém, como identificar o burnout e qual é a diferença entre a condição e o estresse rotineiro de um momento mais atarefado de trabalho?
Segundo Raquel Ferreira, psicóloga da Casa de Saúde São José, o burnout se diferencia de um cansaço comum ao gerar uma exaustão emocional profunda, sobrecarga e perda do sentido da atividade profissional: “quando o profissional passa muito tempo se sentindo pressionado no trabalho, esse esgotamento vai se instalando aos poucos. É comum em situações nas quais há pouco ou nenhum reconhecimento, com pausas impedidas ou não incentivadas, fazendo com que o profissional seja julgado quando resolve fazer um simples intervalo”.
Professores, enfermeiros, psicólogos, cuidadores, mulheres, pessoas com jornadas duplas ou triplas e trabalhadores de baixa renda fazem parte dos grupos mais vulneráveis ao diagnóstico. No geral, o ambiente de trabalho apresenta uma carga horária excessiva, pressão por resultados, altas demandas, falta de reconhecimento, competitividade, conflitos e ausência de apoio emocional e de uma supervisão cuidadosa. Com isso, a pessoa passa a enfrentar os seguintes sintomas físicos e psicológicos:
- Dores de cabeça, insônia e cansaço extremo e constante;
- Problemas gastrointestinais;
- Irritação, desânimo e dificuldade de concentração;
- Sensação de fracasso.
Quando não tratada, a condição pode evoluir para quadros mais graves, como depressão, crises de pânico e, até mesmo, ideações suicidas. Além disso, em alguns casos, o burnout deixa sequelas para a vida do paciente, que pode desenvolver hipersensibilidade ao estresse, insegurança ao retornar ao trabalho e alterações na autoestima.
Diante disso, a psicóloga alerta para a importância de um cuidado contínuo, atento e especializado. Após o diagnóstico, o tratamento ocorre com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, dependendo de cada caso. Nesse quadro, o processo terapêutico trabalha a relação do indivíduo com o trabalho e suas especificidades, incluindo as questões individuais que se relacionam com os processos profissionais. “A terapia vai desenvolver a ressignificação do trabalho a partir da reflexão do paciente e do entendimento sobre suas prioridades, valores e ajustes necessários no âmbito profissional. Nesse sentido, o processo de autoconhecimento é fundamental para identificar gatilhos e situações de riscos, criando recursos de enfrentamento”, comenta a especialista da Casa de Saúde São José.
Para se prevenir, é importante estabelecer pausas regulares, criar limites saudáveis entre trabalho e vida pessoal, fortalecer a rede de apoio e buscar ambientes mais humanizados. Para Raquel, a prevenção precisa acontecer de forma individual e institucional: “é preciso pensar o burnout também como uma questão institucional, firmando compromissos com a promoção de ambientes e relações de trabalho saudáveis”.