Por Dr. Carlos Barsotti
Ter o suporte integral da nossa família e amigos em momentos preocupantes de saúde é um fator decisivo para o processo de um tratamento, principalmente no caso de crianças e adolescentes. Quando falamos sobre a escoliose, patologia que afeta principalmente os mais jovens, é essencial que haja apoio direto destes núcleos não só da família, como também das instituições de ensino e, claro, de uma boa equipe médica.
Desenvolvida durante o estirão do crescimento que ocorre na puberdade, a escoliose idiopática é a tipologia mais frequente desta dor cervical vista nos pacientes desta faixa etária – a qual, segundo a OMS, afeta mais de 50 milhões de pacientes ao redor do mundo.
Normalmente, os casos mais graves costumam aparecer nas mulheres, e sua evolução irá variar conforme cada jovem.Existem muitos sintomas típicos desta dor cervical que podem ser nitidamente notados nas crianças e adolescentes. No geral, eles incluem a assimetria da região das costas, dos ombros, da costela (a qual pode ser claramente observada de frente) e, com isso, muitas dores e desconfortos que podem se agravar dependendo da época na qual ela for identificada.
Apesar de não haver, ainda, uma causa específica da escoliose idiopática conhecida na medicina, é fato que a demora neste diagnóstico está diretamente relacionada à uma maior probabilidade de seu desenvolvimento para sintomas mais graves aos pacientes. Por isso, é essencial que haja um acompanhamento periódico com profissionais de saúde para que se torne possível identificar a condição em seus estágios iniciais e, assim, implementar os métodos de tratamento mais adequados, conforme cada caso.
Os programas de rastreamento nas escolas, também conhecidos como “school screening“, são alguns dos métodos mais eficazes para identificar a escoliose em seus estágios iniciais, de forma que os profissionais de saúde consigam aplicar a intervenção precocemente e promover uma melhora significativa do prognóstico. Nos casos em que a curvatura da coluna se mostra mais propensa a piorar, o uso do colete ortopédico deve ser imediatamente aplicado.
O uso deste equipamento pode evitar as cirurgias em até 75% dos casos, sendo indicados para pacientes que apresentam uma curvatura da coluna superior a 45 graus. Contudo, até hoje, este uso se mostra como um verdadeiro desafio de ser seguido. Não pela qualidade ou disponibilidade do colete em si, mas pelos casos de depressão e bullying decorrentes de um pré-julgamento de muitos jovens em relação aos que precisam utilizá-lo.
O colete para escoliose precisa ser usado por, pelo menos, 17 horas diárias para que surta o efeito desejado, retirando apenas ao tomar banho e realizar qualquer tipo de esporte. E, aqui, os pais precisam prestar todo o apoio necessário durante esta fase, incentivando-os ao longo do tratamento e fornecendo toda a ajuda necessária para que consigam lidar com este momento tão delicado. Principalmente, considerando que muitos são discriminados pela inevitável mudança física que a escoliose causa.
A adaptação ao colete pode ser um verdadeiro desafio físico e emocional para o adolescente, e não são incomuns os casos em que estes jovens não se sentem confortáveis em relatar os sintomas sentidos para os seus pais. Isso pode gerar um sentimento de culpa nos adultos, por terem identificado a patologia já em estado mais avançado em seus filhos. Entretanto, isso não precisa ser motivo de preocupação.
Existem muitos modelos de colete confortáveis e que se moldam ao corpo do paciente, evitando sobras ou que apareça por fora da roupa – assim como é visto no colete 3D. Dessa forma, além de elevar sua aceitação de uso, os relatos de bullying podem diminuir significativamente. Junto à essas opções de alta qualidade disponíveis, é fundamental que os pacientes realizem fisioterapia específica integrada, juntamente com exercícios que podem melhorar a força, flexibilidade e postura do jovem, criando uma abordagem de tratamento mais holística para a escoliose idiopática.
Por mais que seja uma condição complexa, não faltam tratamentos adequados para assegurar a qualidade de vida às crianças e adolescentes e, seja qual for o tratamento indicado pelo profissional de saúde, é indispensável que haja o maior apoio possível da família, dos amigos, da equipe médica e das escolas neste processo, a partir de ações efetivas que envolvam todos em uma maior conscientização sobre o problema. Apenas assim, o paciente se sentirá seguro e confortável ao longo desta jornada, tendo compreensão, paciência e suporte psicossocial para a melhora de sua coluna.
Sobre o Dr. Carlos Eduardo Barsotti:
Dr. Carlos Eduardo Barsotti é cirurgião ortopedista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Mestre em Ciências da Saúde e Pós-graduado pela Harvard Medical School. Com mais de 19 anos de experiência na área, é um dos poucos profissionais do país a realizar intervenções de alta complexidade, principalmente na correção de escoliose.